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“SEM DEMARCAÇÃO, VAI CORRER SANGUE”: crônica de algo que poderia e ainda pode ser evitado



Por Casé Angatu.
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A entrevista aqui linkada foi publicada em fevereiro de 2014. Estávamos (Bijupirá Tupinambá, Casé Angatu e Poran Tupinambá) na APROPUC (São Paulo/SP) numa atividade promovida pelo GT Indígena do Tribunal Popular. De lá pra cá somente no Território Indígena de Olivença (Ilhéus/Bahia) já morreram de forma violenta vários Parentes, entre eles nosso Parente Pinduca, morto recentemente em 01 de maio/2015.
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Lembrei desta entrevista porque neste domingo na Cabana da Índia (Syrybha) encontrei o Curumim do Índio Mascarrado que também foi morto de modo violento em 2014 em nosso Território. Pensando naquele Curumim e no Guerreiro Forte (Gwarini Atã) que foi e ainda é Mascarro (sua memória está presente agora e sempre) lembrei desta entrevista porque ele sempre falava: “a culpa é do capitalismo”.
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Na entrevista salientávamos que a dificuldade para a demarcação do Território Indígena Tupinambá não era só por questões jurídicas e técnicas. Até porque todos os processos legais e técnicos já foram vencidos, bem como foram derrotados os pareceres contrários, incluindo o relatório dos que não desejam a demarcação.
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Então o que impede a demarcação do Território Tupinambá e de outros Territórios Indígenas e Quilombolas? Na nossa compreensão a não demarcação não deriva de pendências jurídicas e/ou técnicas, mas acima de tudo das barreiras colocadas pelos interesses políticos e econômicos dos que atuam junto ao poderes (executivo, legislativo e judiciário).
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Na nossa leitura, mesmo saindo a Demarcação do Território Tupinambá e/ou de outros Territórios Tradicionais Indígenas no Brasil, a ameaça de serem revistas e anuladas as demarcações será uma espada pairando sobre os Povos Originários.
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Faz tempo que estamos salientando: a nossa luta vai para além da PEC 215, Portaria 303 da AGU e/ou por Demarcações dos Territórios de cada Povo. Precisamos sim derrotar portarias como PEC 215 (aliás, a lista de portarias contra os Territórios Indígenas e a natureza é enorme), derrubar medidas como a 303 da AGU e lutar pelas demarcações.
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Porém, precisamos ficar cientes que logo outras portarias e medidas serão criadas a exemplo de uma série de projetos de reforma constitucional em andamento no congresso nacional. Assim acontece à 515 anos variando de mandatários à mandatários no poder. Mudam-se as formas de governo (colônia, império e república), mas o ataque aos Territórios Indígenas continua. Além disso, o governo federal ao nomear Kátia Abreu, entre outros representantes dos interesses ruralistas, deixa claro de que lado está.
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Volto a salientar: não podemos nunca esquecer que a luta pelo Território tem mais de 515 anos. Os Territórios Indígenas, bem como nossa forma de viver e a natureza, são considerados como “empecilhos” não são ao interesses do agronegócio como também à política desenvolvimentista.
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Não obstante, como indígena que está na luta penso que existem muitas pessoas (índios ou não) também precisando do apoio dos que nos apoiam. Por isto solicito: apoiem as lutas cotidianas nas cidades, periferias, quebradas, conjuntos habitacionais, favelas, cortiços, cadeias, manicômios, em situação de rua. No entanto, um apoio que coloque como exigência principal a busca por um outro mundo.
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Sinto que muitos apoiam a nossa luta – a Luta dos Povos Indígenas – pela justeza de nossas reivindicações, como extrapolação de suas angustias sociais, políticas e culturais. Mais isto não é tudo … pelo menos penso assim. Novamente digo: apoiem também e acima de tudo a luta por um outro mundo, na qual muitos de nós (indígenas ou não) nos incluímos.
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Sem derrotar este sistema que tenta nos dominar não teremos nossos Territórios Ancestrais definitivamente de volta e a natureza protegida. A luta é acima de tudo contra o atual sistema na busca pelo fim das injustiças sociais, econômicas, políticas e jurídicas. Não deixe isto ser só uma fase de rebeldia em sua vida.
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A luta está em todo lugar onde existirem as chamadas “minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta!”
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Subcomandante Marcos e os Zapatistas de Chiapas nos inspiram.
Quando perguntado quem era Marcos … ele respondeu:
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Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portifólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México.

Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo.

Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta!

Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar.

Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos.”
(Subcomandante Marcos – 28 de março de 1994) https://www.youtube.com/watch?v=thAiSkX4qwo
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Seja você também um Marcos. Lute por um mundo onde caibam vários mundos.
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Quanto a morte de Todas/Todos Parentes mortos na Luta pela Terra não esqueceremos: quem mata não é só quem aberta o gatilho ou utiliza o facão. Existem várias formas de mata. O estado brasileiro, seus mandatários e os que possuem o poder econômico são historicamente culpados pelas violências cometidas contras os Povos Indígenas e o Povo deste lugar chamado de “Terra Brasilis“.
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Não temos rancor,
Mas possuímos memória.
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Todas/Todos Gwarinis Atãs
A Memória de vocês está presente
Agora e Sempre !

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AWERÊ !
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“(…)

Somos geniosos
Mas temos bom coração

Somos jovens e velhos Guerreiros
Por nossas Terras vamos Lutar
Espalhar nossa Semente.
O solo germinar”
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“Quando chego em Olivença
Pra lutar por nossas Terras
Encontrei os meus Parentes
Todos em Ponto de Guerra.

Tenho o arco
Tenho a flecha
O Maracá.

Venho todos meus Parentes
Na Aldeia Tupinambá”
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Para todos nossos Parentes mortos na Luta pelo Território e seus Curumins/Cunhatãs que são galhos do mesmo tronco.
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AWERÊ!
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